
Nesta quinta-feira, 12 de junho de 2025, o desaparecimento da menina Renata Cristina da Silva, natural de Potirendaba (SP), completa 28 anos. Ela que hoje estaria com 39 anos de idade, tinha apenas 11 anos quando saiu de casa para ir à escola e nunca mais foi vista.
O caso, repleto de incertezas, falsas pistas e um sentimento de impunidade, se tornou um dos mais intrigantes e dolorosos da história do interior paulista. A Gazeta do Interior traz nesta reportagem especial informações exclusivas e que até hoje ainda não haviam sido divulgadas.
Naquela manhã de 12 de junho de 1997, uma quinta-feira aparentemente comum, Renata saiu de casa por volta das 11h45, no bairro Cohab II, vestindo bermuda preta, uniforme cinza da então Escola Estadual de Primeiro Grau Maestro Antônio Amato (hoje escola municipal) e tênis branco. Seu trajeto até a escola era curto: poucos quarteirões, ando por áreas de pastagem - que hoje possuem várias casas construídas. No caminho, ou em um mercado perto da escola, como costumava fazer. Esse foi seu último paradeiro conhecido.
(Cartaz de divulgação do desaparecimento na época)
A irmã de Renata, Patrícia Regina da Silva, na época com 20 anos, lembra da irmã mais nova com grande carinho, mas também tristeza. “A Renata era uma menina alegre, cheia de sonhos. Eu peço que o caso dela sirva de alerta para os pais. Nunca pensem que o caminho para a escola é seguro demais. Um segundo pode mudar uma vida para sempre”, disse para a Gazeta do Interior.
Em respeito à dor da família, a reportagem optou por não entrevistar a mãe de Renata, hoje com quase 80 anos, que vive em sofrimento profundo desde aquele dia, sem respostas. Para agravar ainda mais a tragédia, pouco tempo após o desaparecimento da filha mais nova, ela perdeu outra filha em um acidente automobilístico entre Potirendaba e Bady Bassitt (SP), ocorrido também em um 12 de junho, mesma data do sumiço de Renata — um dobro de dor para uma mãe marcada pela ausência e pela perda.
Início das investigações e prisões
O boletim de ocorrência foi registrado na manhã do dia 13 de junho de 1997, um dia depois do desaparecimento. Mesmo sem recursos modernos de investigação – como câmeras de segurança, serviço de inteligência artificial, celulares ou registros digitais –, a Polícia Civil de Potirendaba iniciou os trabalhos sob liderança do então delegado Marcelo Goulart.
Em 26 de junho de 1997, o primeiro suspeito foi detido. Um curandeiro de Nova Aliança (SP) foi identificado após a família receber uma carta em que ele afirmava saber onde estaria o corpo de Renata. O homem foi preso, e buscas foram realizadas, mas nada foi encontrado. A investigação revelou que ele era apenas um exibicionista que buscava atenção. Foi liberado após cinco dias de detenção.
Outra linha de investigação incluiu o "Maníaco do Parque", Francisco de Assis Pereira, natural de São José do Rio Preto (SP). Ele foi responsabilizado por vários assassinatos e estupros de mulheres adultas. Apesar da investigação, o perfil de suas vítimas não coincidia com o de Renata, e a hipótese foi descartada.
(Maníaco do Parque continua preso)
Buscas por todo o país
A busca por pistas levou a polícia a diferentes cidades, como São Carlos, Ribeirão Preto, Uberaba (MG), Uberlândia (MG) e Cassilândia (MS). No dia 10 janeiro de 2000, surgiu uma nova esperança: a prisão do maníaco Laerte Patrocínio Orpinelli, conhecido como o "Maníaco da Bicicleta". Acusado de mais de 100 homicídios, sendo 10 de crianças, no dia 26 de janeiro daquele ano os policiais de Potirendaba foram até Rio Claro, pela primeira vez, na tentativa de que ele confessasse o caso.
(Orpinelli morreu na cadeia em 2013)
As equipes obtiveram uma confissão informal do maníaco sobre o assassinato de uma garota de aproximadamente 12 anos, mas a contradição apareceu quando ele também assumiu um caso no mesmo dia do desaparecimento de Renata, na cidade de Araraquara, a 175 km de Potirendaba.
As investigações mostraram, no entanto, que ele também alegava estar em Araraquara no mesmo dia, cometendo outro crime. Apesar de ter ado por Potirendaba em junho de 1997, a confissão foi considerada inconsistente. Ainda assim, ele foi trazido para Potirendaba para tentar indicar o local onde teria visto Renata.
Após vários desencontros de informações e contradições, no final do dia Orpinelli relatou aos policiais que conhecia o fato apenas através da imprensa e que inventou a história porque estava querendo sair da prisão em São Paulo e precisava “arejar a cabeça”. Diante da falta de provas, no dia 26 de janeiro de 2000 ele foi entregue de volta ao Departamento de Homicídio e Proteção Pessoal (DHPP), onde já estava preso.
(Maníaco Laerte Patrocínio Orpinelli mostrando onde fantasiosamente teria enterrado Renata)
Nova tentativa: escavações em 2016
Em 12 de agosto de 2016, quase 20 anos após o desaparecimento, uma nova informação sigilosa levou a Polícia Civil de Potirendaba a realizar escavações em uma propriedade rural no bairro Água Vermelha. Segundo a denúncia, o corpo da menina poderia estar enterrado em uma tulha – local usado para guardar ferramentas.
Com apoio de uma máquina, a equipe liderada pelo então delegado Adriano Ribeiro Nasser realizou escavações por cerca de uma hora, porém, nada foi encontrado. A família, mais uma vez, viu a esperança ser frustrada.
(Equipe de investigação de Potirendaba escavando local indicado)
Um caso que ainda espera por justiça
Atualmente, o caso não conta com inquérito formal ativo por falta de elementos concretos, mas todos os documentos, relatos e pertences de Renata seguem preservados na Delegacia de Potirendaba. Entre eles, um caderno de desenhos da menina, que continua sobre a mesa dos investigadores.
Mesmo quase 30 anos após o sumiço da menina Renata, a Polícia Civil de Potirendaba continua cruzando dados e a investigação continua em andamento. Um dos fatos que mais entristece as equipes que já aram pela delegacia de Potirendaba é o fato da população afirmar que a polícia não fez ou não está fazendo nada.
O desaparecimento de Renata é mais do que um caso policial: é uma marca que não pode ser apagada na memória de uma cidade inteira. A cada 12 de junho, a família revive a dor e a esperança de reencontrar a filha, viva ou ao menos com uma resposta.
Quem tiver qualquer informação sobre o paradeiro de Renata Cristina da Silva pode procurar a Delegacia de Polícia de Potirendaba ou entrar em contato pelo telefone 197 da Polícia Civil.
(Foto melhorada com uso de inteligência artificial)