

Quatro policiais militares que atuavam dentro do presídio militar Romão Gomes, em São Paulo, foram presos preventivamente nesta quarta-feira (11/06/2025) por envolvimento em um esquema de corrupção, que facilitava a entrada de celulares, drogas e até anabolizantes na unidade prisional. Segundo a Corregedoria da Polícia Militar, os agentes são investigados pelos crimes de corrupção, tráfico de drogas, prevaricação e associação criminosa.
A investigação começou em fevereiro de 2024, após a descoberta de um celular e um carregador escondidos na cela do soldado Eduardo José de Andrade, de 23 anos, natural de Cedral (SP). Condenado a 29 anos e 4 meses de prisão pelo homicídio de José Gonçalves Filho, de 39 anos, em Cedral, o militar revelou aos corregedores a existência de um esquema de facilitação de entrada de itens proibidos na unidade, envolvendo outros colegas da corporação, além de familiares de detentos. Antes de ser expulso da corporação, ele era policial na capital paulista.
De acordo com o depoimento de Andrade, dois sargentos responsáveis pela guarda do presídio permitiam a entrada dos objetos, que eram reados à população carcerária por meio das visitas. Em fevereiro de 2025, novos cinco celulares foram apreendidos com um cabo que atuava como carcereiro, o que reforçou as suspeitas de que o caso não se tratava de um episódio isolado.
As investigações apontaram que a irmã de Andrade recebia entorpecentes de traficantes com quem o soldado mantinha contato, e que sua esposa era responsável por transportar os itens até o presídio. A quebra de sigilo telefônico de Andrade também revelou transferências bancárias entre seus familiares e os soldados Felipe Oliveira Amazola e Felipe Moreira da Silva, também lotados no Romão Gomes.
Outros dois PMs também foram implicados no esquema: o cabo Nilson Moreira da Silva, suspeito de fornecer anabolizantes aos presos, e o soldado Moreno Maximiliano, acusado de receber dinheiro diretamente de detentos e seus parentes. A Justiça Militar decretou a prisão preventiva dos quatro policiais, que agora estão detidos no mesmo presídio onde teriam cometido os crimes.
“Basicamente, os policiais facilitavam a entrada de aparelhos em troca de uma compensação financeira. Então, aí entra a corrupção, entra a prevaricação, por isso todos esses crimes. Ao mesmo tempo que nos entristece prender quatro policiais, por outro lado, nos orgulha também porque é a própria Polícia Militar fazendo o trabalho de depuração”, declarou a comunicação oficial da PM.
O presídio Romão Gomes, fundado em 1957, é uma unidade destinada exclusivamente a policiais militares condenados ou que aguardam julgamento pela Justiça Comum ou Militar. Atualmente, abriga 229 presos, sendo 227 homens e duas mulheres.
Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão nas casas de familiares dos investigados, a Corregedoria da PM realizou diligências em Cedral, Uchoa, Potirendaba e São José do Rio Preto, todas cidades do interior de São Paulo. Durante a operação, uma viatura da Corregedoria capotou em Cedral, mas nenhum agente ficou gravemente ferido.
Histórico criminoso de Eduardo José de Andrade
Informações obtidas com exclusividade pela Gazeta do Interior mostram que o soldado Eduardo José de Andrade está sendo investigado por um segundo homicídio, ocorrido em 10 de novembro de 2022, também em Cedral (SP). A vítima, Tiago de Paula, de 32 anos, foi assassinada a tiros enquanto conversava com um amigo na calçada de sua casa, no bairro Jardim Galante.
Testemunhas relataram que dois homens mascarados aram pelo local antes de retornarem e abrirem fogo contra Tiago, que tentou fugir, mas caiu no portão de casa. Ele foi socorrido, mas não resistiu. A Polícia Civil já concluiu o inquérito, e o caso foi denunciado ao Ministério Público, que agora aguarda a sentença de pronúncia — etapa que decide se o policial irá a júri popular.
Caso seja condenado por esse segundo crime, Eduardo poderá pegar mais 30 anos de prisão por homicídio qualificado, agravado por motivo torpe e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima.
Em 27 de fevereiro de 2025, ele já havia sido condenado durante júri popular em São José do Rio Preto pelo assassinato de João Gonsalves Filho, de 39 anos, morto com um tiro nas costas em dezembro de 2022. O crime foi cometido com ajuda do açougueiro Pierre Henrique de Souza, que também foi condenado. A motivação teria sido uma dívida de R$ 300 por drogas.
A ossada de João foi encontrada em abril de 2023, às margens da rodovia João Neves, entre Potirendaba e Cedral, após ter sido sequestrado, levado a um canavial e executado.
Com um perfil violento e ligações com o tráfico de drogas na região, a Polícia Civil investiga se Andrade pode estar envolvido em outros crimes. O soldado segue preso preventivamente e não pode recorrer em liberdade.
As defesas dos quatro policiais presos não foram localizadas até a publicação desta reportagem.
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